Entrevistamos o senhor Walmir Garcia, técnico em agropecuária da EMPAER-MT, para entender e elencar quais são os primeiros principais passos para os produtores que estão começando a trabalhar com pecuária. Ficou evidente que é necessário administrar com atenção para construir um empreendimento pecuário e torná-lo uma empresa sólida e lucrativa.
A EMPAER é uma das empresas públicas do Estado de Mato Grosso, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), que trabalha ao lado dos agricultores familiares, incentivando boas práticas rurais e difundindo novas tecnologias para gerar e garantir o desenvolvimento econômico, social e ambiental da agricultura familiar.
Nas próximas seções, destacaremos boas práticas para tornar a atividade pecuária uma alternativa viável de renda frente às diversas opções de uso da propriedade rural.
Walmir citou como primeiro ponto a avaliação do sistema de produção adotado pelo produtor. Atualmente, existem diversas alternativas para a produção de bovinos, e sua sugestão é trabalhar na criação dos animais a pasto, no sistema extensivo, pois geralmente trata-se de um sistema que exige menores investimentos.
"Minha recomendação é que ele opte pela criação dos animais a pasto, pois possuímos na maior parte do país características favoráveis para esse sistema de exploração, com um custo de produção muito mais baixo. Podemos dizer que a boca do bovino funciona como a nossa colheitadeira."
Questionamos também sobre a escolha correta do capim a ser plantado, visto que os produtores são frequentemente surpreendidos com novos lançamentos de sementes que prometem resultados cada vez melhores a cada ano.
Nesse quesito, ele ressaltou que ao investir na forrageira, não adianta adquirir o lançamento do ano sem considerar algumas características tanto do projeto quanto do terreno. Em muitos relatos, eles observaram que, para obter a melhor produtividade, o melhor capim é aquele que já está na sua propriedade.
Sendo assim, ele considera não haver um capim ruim, mas sim a forrageira que melhor se adapta às condições da propriedade, considerando o clima, a fertilidade do solo, a topografia do terreno e a raça do animal criado.
"São diversas as opções de capins, e a escolha da forrageira deverá considerar o clima, a fertilidade do solo, a topografia do terreno e para quais categorias de animais será destinado. Por isso, não compre o lançamento do ano somente por ser o mais recente no mercado. Talvez, para alcançar as melhores produtividades, o melhor capim seja aquele que já está na sua propriedade."
Outro aspecto fundamental é realizar uma análise do solo para entender como está a fertilidade na propriedade e tomar decisões de investimento informadas.
Segundo Walmir, realizar a análise de solo é o investimento mais barato para evitar grandes prejuízos. Para realizar a análise de fertilidade do solo, são considerados os seguintes critérios: histórico do uso da área, topografia, facilidade para encharcamento ou assoreamento, entre outros fatores.
Um ponto importante citado por ele é que antes de adubar, é preciso corrigir o solo, e o produtor precisa ficar atento. Sendo assim, com base nos resultados colhidos na análise do solo, ele recomenda que seja feita a correção, chamada de calagem, para manter o pH do solo em uma faixa adequada para o crescimento das plantas. Recomenda-se utilizar o calcário dolomítico na dosagem necessária, de acordo com os resultados da análise de solo.
Agora, você deve estar se perguntando como escolher a semente adequada?
Segundo o profissional, essa talvez seja uma das escolhas que os produtores mais desconsideram, no entanto, é uma das mais importantes. As sementes de baixa qualidade podem encarecer muito o custo do plantio, considerando a baixa pureza, ou seja, a mistura do capim com outros tipos de sementes. Portanto, o produtor precisará de uma quantidade maior para obter bons resultados no plantio.
"Nem sempre a semente mais barata é a mais econômica."
Outro ponto que às vezes é esquecido pelos produtores é que o capim é uma lavoura e, com isso, precisa ser adubado. Portanto, após ter realizado a correção do solo com a calagem, inicia-se a prática da adubação da pastagem.
Segundo ele, a adubação deve ser calculada de acordo com a intensidade de uso do capim, pois parte dos nutrientes exportados pelos animais se transforma em carne ou leite e não retorna para o solo. Essa reposição deve ser feita com adubações químicas e, se possível, também orgânicas, como esterco e outros.
Além desses pontos, abordamos o manejo da pastagem. Tendo em vista que o pasto é uma cultura perene e, quando bem manejado, não envelhece, podendo durar por várias gerações.
"Não basta produzir mais; é preciso colher o que foi produzido no momento certo. Capim não colhido é prejuízo!"
À medida que o pecuarista trata o pasto como uma lavoura e o maneja com a mesma disciplina do agricultor, os ganhos serão altos em produtividade. O manejo da pastagem em pastejo rotacionado garante que o consumo do capim ocorra no momento correto, aumentando o desempenho animal.
Para auxiliar o produtor no manejo, segundo os dados das pesquisas científicas, há uma relação entre o melhor momento de colheita e a altura da forrageira. Essa altura varia de acordo com cada capim. Em geral, a altura de saída dos animais do piquete é a metade da altura com que entraram na área, como exemplificado na tabela. Para facilitar essa análise, o produtor pode adaptar uma vareta ou algo similar para medir a altura de forma mais prática na propriedade.
Walmir finalizou a entrevista trazendo a mensagem para o produtor que busca profissionalizar a atividade pecuária: "Comece fazendo o básico bem feito para, só então, pensar em novas estratégias para aumentar a produção."
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