Evitamos trazer esse assunto aqui no Blog. Buscamos sempre uma abordagem construtiva com o olhar para o futuro, contudo, não poderíamos nos abster de comentar sobre a matéria veiculada no Fantástico no dia 13/02/22 - sobre a suspeita de golpe financeiro e evidente maus tratos aos animais. A matéria em si e sua repercussão é um chamado a reflexão aos empreendedores e produtores do agronegócio que, assim como nós do FazendaCheia, desejam tornar este mercado acessível, ainda mais produtivo e seguro a todos. Afinal, como é possível um dos mercados mais pujantes do Brasil (7% do PIB) ser praticamente inacessível e ao mesmo tempo tão desacreditado por conta das recorrentes tentativas de golpe?
De antemão, reforçamos que não viemos aqui para julgar o ocorrido, para isso deixamos que os órgãos competentes e autoridades façam seu trabalho, mas estamos aqui para contribuir com o entendimento de que não há milagre financeiro em nenhum segmento de mercado, e mesmo quando pareça existir, não tenha dúvidas de que alguém está pagando por isso. No caso da matéria veiculada, os animais em estado de inanição por maus tratos e talvez, investidores.
Em nossa visão, tanto a descrença quanto os prejuízos gerados à sociedade, são criados por 3 aspectos chave:
A ambição desmedida de empresas e/ou produtores que ignoraram os ciclos da pecuária e decidem surfar ou financiar suas ondas de crescimento com o recurso alheio, sem ponderar o movimento cíclico deste mercado, e que portanto, não deveria se basear no potencial de crescimento do valor do @ arroba do boi, mas na eficiência produtiva e gestão dos resultados dos projetos;
Ofertas de curto prazo com promessa de retorno acima da média de mercado que não consideram a complexidade da cadeia produtiva e, portanto, a necessidade comum de adaptação da estratégia para se ajustar a mudanças de cenário;
Em caráter de exceção, temos ainda a cultura extrativista vigente em regiões menos desenvolvidas ou que operam a moda antiga sem dar o devido foco e respeito ao bem-estar animal, a ponto de ser preferível deixar o rebanho morrer de fome a tomar medidas que impactem o custo. Neste modelo de operação exploratória, quando o cenário muda, quem paga é o mais fraco, assim como se vê na reportagem citada.
A combinação dos primeiros dois elementos acima geram catástrofes como o caso da Fazenda Reunidas Boi Gordo, que operava num modelo centralizado com emissão de contrato de investimento coletivo (CIC) com grandes rebanhos e fazendas em uma época aonde ter telefone para se comunicar na cidade era um luxo. Ao todo, foram mais de 30 mil investidores lesados por todo o Brasil e que continuam até hoje na justiça lutando pelo retorno do capital investido.
Felizmente, com os avanços tecnológicos e de comunicação, e consequente amadurecimento do mercado, já existem opções operando no mesmo modelo com o "pé no barro". Fica aqui o chamado para que unifiquemos o nosso trabalho de forma a evitar que situações como esta ocorram no mercado que desejamos transformar.
Com o objetivo de gerar reflexões, elencamos algumas perguntas que, do nosso ponto de vista, são primordiais para fortalecer a segurança de um empreendimento pecuário ou parceria produtiva:
Como você sabe que o seu rebanho está onde deveria estar?
A Gestão está à vista?
Você tem acesso direto ao produtor rural que faz a operação ou apenas ao time de vendas que fica no escritório?
O seu risco é diluído em projetos independentes ou centralizado em um único CNPJ?
Quais são as garantias em caso de catástrofes naturais?
Quais são as garantias em caso de roubo ou furto do rebanho?
Nós do FazendaCheia ainda não temos todas as respostas, mas estamos comprometidos em viabilizar um modelo de operação descentralizado e direto, com produtores rurais que vivem da pecuária e não apenas dos momentos bons do mercado. Os desafios são inúmeros, mas estamos convictos que em breve, desenvolver o seu rebanho de forma sustentável, regulada e segura será tão simples e seguro quanto uma corrida de Uber.
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